domingo, 15 de julho de 2007

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Quando olho com atenção tinha entre o poste e o carro num espaço minusculo uma mulher, perdida entre o sangue como se fosse um escudo de maldade e não me permitisse ajuda-la, fiquei em pânico, o barulho era infernal, os carros apitavam, as pessoas insultavam, as ambulancias chegavam, eu estou bem, eu estou bem, respondia perante todas as perguntas que me faziam, incredulo ficava a olhar e a caminhar para trás, ele está a fugir, gritou uma mulher de uma varanda, um homem encorpado vem a correr para mim e agride me, coloca me no chão violentamente e soqueia-me até a policia intervir.
Eu já não sou nenhuma criança e o meu corpo não é de aço, tentaram-me levantar, mas eu não me aguentei sozinho em pé, fui levado para o hospital.
Horas depois, enquanto estava na maca do hospital e me disseram que teria alta apenas amanhã, só por precaução, um oficial da policia chega perto de mim, dirige-me a palavra de uma forma austera e coloca-me a par de tudo o que se passou, fiquei a saber que a mulher ia a caminhar normalmente olhando para o céu, segundo testemunhas, fiquei a saber que estava muito mal, em cuidados intensivos, e fiquei a saber que depois de várias tentativas a policia chegou à conclusão que a senhora não tinha ninguem que se responsabiliza-se por ela.
Eu, Fernando Guedes, acabei de fazer a maior asneira da minha vida.
O oficial praticamente me impingiu que eu tomasse alguma atitude, eu vi-me sem opções, eu responsabilizei-me por tudo, o policia disse me ao ouvido que essa era a unica maneira de eu ver a minha pena atenuada, eu fiquei logo exaltado, pena? Mas, Vou ser preso? ele pediu-me para eu ter calma, se não ia directamente para o cemitério, ele conversou comigo, disse o quão influente era e disse que por uma boa multa e o assumir de todas e quaisquer responsabilidades pela senhora, eu estaria "perdoado", eu gosto de justiça, mas neste caso, no meu caso, eu prefiro assim.
Fiquei sozinho, quando dei por mim com o olhar vadio pela janela, já era de noite, o tempo tinha mesmo passado depressa, a enfermeira chegou perante mim, muito simpatica, dizendo-me que eram horas de dormir, para no dia seguinte estar pronto para ir embora, deu me um analgesico e pouco depois acabei por adormecer.
Quando acordei de manha, vi a enfermeira a preparar as minhas roupas, eu já me sentia melhor, apenas dorido, nunca fui de ficar doente, e só tinha estado no hospital para nascer, mas, como não me lembro, não me incomoda muito, no entanto, este tipo de ambiente não é propicio para mim, o odor, os sons, os impactos visuais, e depois ter que passar pelo corredor da morte, onde as pessoas estão em macas, chorando, dormindo, tudo menos sorrindo, esperando o fim. Crianças, adultos, idosos, custa-me encarar a morte.
Bom dia, dirigiu-se assim a enfermeira, quando percebeu que eu já tinha um olho aberto e o outro entrelaçado pelo sono, eu olhei para ela e disse, já posso ir? E ela sim, vai tomar o pequeno almoço e depois passe pelo balcão, porque tem que tratar de uns papéis, o sr policia até lhe deve ter já falado nisso, fiquei pensativo e voltei a fechar os olhos por uns instantes, ai! no que me fui meter.
Depois de tudo pronto, lá fui eu ao balcão, muito directamente a empregada atirou-me os papeis e lendo-os muito bem, percebi que não tinha mesmo nenhuma fuga, assinei tudo, perguntei depois pela Rute, Sr Rute, era o nome que estava no contracto que acabei de assinar.
A empregada após dez minutos lá me deu a resposta, está em cuidados intensivos e tenho ordens para que o senhor Fernando Guedes não possa entrar na sala, vá para casa e aguarde um telefonema, estes casos demoram dias, ou semanas, e a vitima pode até não sobreviver, qualquer novidade será informado, visto que agora é o unico responsavél pela pessoa, quer ela morra ou ela viva.
Sai meio conturbado, meio (risos cansados), quem quero eu enganar, saí, atravessei na passadeira, parei e lembrei-me, ei!! o meu carro!!!

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Notas... boas notas tiravam eles se passassem mais tempo a patrulhar o trânsito. Metade desta gente era varrida a multas quer seja a pé quer seja de carro. Mas oh... quem sou eu?Estou aqui sentado em frente ao meu carro, que está mal estacionado, em segunda fila a criticar os outros mas afinal quemsou? Vou mas é para casa. Espera almoçarfora não seria má ideia aliás muito boa. Vou até ao shopping, vou lá ver os malucos a comerem minhocas. Rua acima rua abaixo, três insultos duas apitadelas, mas o o Mundo é isto, barulho gente, mais gente muita gente. Gente boa gente má gente, ou não, porque há sempre aqueles que não são gente são apenas coisas. Lá estou eu. Que confusão acho que começo a sentir me um bocado dividido, talvez duas personalidades? Não isso para mim não existe, pelo menos até hoje. Eu sou o que sou sou eu o Fernando. Eu não mudo de cara eu não mudo de opiniões como o vento pois não? E já agora Fernado importaste de te calar? Aiii! Agora já falo sozinho. Acorda para de pensar pelo menos enquanto guias, ainda vais ter um......

Foi só esfregar os olhos para acordar e apagou tudo com aquele impacto. O que se passou? Olho pela janela mulheres a berrar para mim olhares de reprovação sai do carro , tinha embatido num poste. Bem tanto barulho por isto, ainda se tivesse aleijado alguém. Vá lá estou inteiro, nem um arranhão mas o carro está desfeito, o seguro... - Oh palhaço, matas-te a mulher!- O quê?...